quinta-feira, 30 de abril de 2020

A Mãe! das pretensões

#Gaspar: de volta, não sei se por muito tempo :D (vocês ainda lembram de mim?), apresento-lhes uma crítica/resenha de um filminho maroto que assisti nesse final de semana. ;)


O filme é dirigido por Darren Aronofky.
Vamos falar sobre pretensão, e sobre Obra de Arte também; ou melhor, sobre Arte.
Assistir Mãe! (Mother!, no original) despertou-me uma série de pensamentos intrínsecos à natureza da Arte, ao fazer artístico e ao papel do artista na sociedade.
Meus pensamentos explodiram com tantas referências, que passeavam dos gregos a Schopenhauer, da Filosofia à Literatura e, por fim, ao cinema. Tive uma verdadeira catarse, desprendi-me do meu criticismo e me deixei levar por aquela experiência sublime, reveladora, purgante e extasiante!
Contudo, aquele momento, singelo momento, não durou mais do que poucos segundos. Enquanto os créditos ainda subiam, e as pessoas já se levantavam, notei que algumas delas não compartilhavam de minha experiência, apesar de também parecerem extasiadas com o filme de Aronofsky, e me desconectei de minha purgação ao observá-las; eu estava sozinho, não tinha com quem conversar sobre o que eu tinha acabado de assistir e continuei sentado, compenetrado em meu estudo.
Elas estavam perplexas, chocadas, pois não haviam entendido o filme de terror que tinham ido ao cinema apreciar e se divertir assistindo. Muitas não haviam pego nenhuma referência jogada na tela - e quando digo jogada, não estou usando de linguagem figurada -, nem mesmo a mais explícita; em dado momento, a película cospe na nossa cara o que quer nos dizer, quase vomitando de dentro da tela, bem nas nossas cabeças. E as que haviam pescado algo, ainda estavam presas na literalidade dos acontecimentos, deixando escapar o que realmente o filme queria nos expor.
O filme estreou em 21 de Setembro de 2017.
Reclamavam: “fomos enganadas!
No cartaz vinha dizendo Terror.
Mãe! é um filme de terror, portanto… Deveria ser, pelo menos.
Não é?”
“Bem, o que é terror para você?”, eu poderia ter perguntado no auge da minha arrogância. Eu estava realmente me achando superior naquele momento, me perdoem.
Mas esse não é o ponto em que quero chegar nessa reflexão disfarçada de crítica. Quero ir mais fundo na obra de Darren Aronofsky na qual me detive durante quase duas horas, talvez um pouco mais.
Mãe! não é um filme perfeito, mas é uma obra de arte. É pedante, mas não é ruim. Acerta quando erra, pois os erros não são gratuitos, aparentemente. O roteiro é fluído, a câmera é nervosa, a narrativa nos conduz ao absurdo e explode com analogias, indiretas aos críticos de Cinema/Arte e beira ao sexismo em determinados momentos; esse, o ponto que mais me incomodou e me tirou da película algumas vezes. As atuações são caprichosas: Jennifer Lawrence está arrebentando mais uma vez, assim como Javier Bardem, Ed Harris e Michelle Pfeiffer - os grandes astros do filme.
Jennifer Lawrence.
A sinopse é simples, esquisita: um casal vive isolado em uma casa; a residência acabou de sair de um incêndio que traumatizou o marido (Javier Bardem), um poeta; a esposa (Jennifer Lawrence) reconstrói a casa sozinha, deixando-o livre para superar seu trauma e trazer suas ideias de volta; e eis que, um dia, o marido resolve ao receber visitas (Ed Harris e Michelle Pfeiffer) abrigá-las em sua casa, sem explicar nada para a esposa.    
Por conta do trailer, que nos revela parte da sinopse, somos induzidos a procurar tramas absurdas e sobrenaturais a cada corte, a cada fim dos trezentos e sessenta graus realizados pelo diretor com a câmera; buscamos sermos assustados a qualquer segundo, e até ensaiamos alguns pulos na cadeira em determinados momentos. Mas ficamos com um gostinho de que estamos sofrendo de placebo, de que talvez estejamos sendo enganados. “Afinal, que merda tá acontecendo?” salta de nossas bocas constantemente, até o ponto em que Aronofsky começa a nos apresentar uma verdadeira tese de doutorado em Arte; tá bom, talvez nem tanto... Uma dissertação de mestrado, vai?
Javier Bardem.

Não sei.
E quando ele se toca de que talvez esteja conversando com as pessoas erradas, ele nos entrega o ouro. E é aí que chegamos na tal pretensão supracitada, no ponto no qual quero chegar com esta crítica/reflexão.
Após longos minutos de “que porra é essa?”, alguém nos vira e diz que tudo estava sendo mastigado desde o início. Isso, em um filme do qual, mesmo assim, as pessoas saem da sala alegando não saber o que viram. Poisé, é pretensioso porque Aronofsky sabe que nós não sabemos do que ele tá falando e sabe que nós não lemos nada sobre o assunto, não estudamos Arte, somos burros!
“Meu filme é uma obra de arte!”, ele berra.
E o pior, ele está certo.
O acaso me fez apreciar Mãe!, deu-me as ferramentas necessárias para tentar decifrá-lo, mesmo não tendo conseguido êxito em boa parte dele. Mais do que isso, o acaso me fez ser um ponto fora da curva porque esse filme não foi feito pra mim, não foi feito pra quem estudou ou entende de Arte - ou melhor, de “arte” -, apesar de massagear meu Ego.
Darren Aronofsky, o Pai! da pretensão.
Mãe! foi feito para aqueles que saíram do cinema o odiando, sem entender nada. Mãe! foi feito com raiva: raiva da Indústria do Cinema/da Arte, raiva da Crítica e raiva do Público/Consumidor. Ele foi feito para nenhuma outra pessoa, senão o próprio Darren Aronofsky; como qualquer Obra de Arte em relação ao seu Artista.
Pelo menos, eu interpretei desse modo; como fã do Aronofsky e como hater da decepção que o diretor nos proporcionou três anos atrás, a qual atende pela alcunha de Noé e logo após o seu ápice, vejam só.
O que você interpretou, ou interpretará - caso assista, e seria interessante assisti-lo -, são outros quinhentos.
Odeie Mãe!, é o que eu tenho a lhe dizer…
Espero não estar sendo pretensioso.



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